segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ração Humana

A Ração Humana virou a nova febre em questão de emagrecimento no Brasil, trazendo consigo amantes e inimigos dessa novidade. A Ração Humana consiste na mistura de diversos grãos e farelos. Há diversas receitas espalhadas pela internet e já existe a ração humana industrializada, a qual você pode comprar no supermercado, mas os seus ingredientes principais são: aveia, linhaça marrom, gérmem de trigo, açúcar mascavo, gergelim com casca, fibra de trigo, gelatina sem sabor, cacau, levedo de cerveja, guaraná em pó e extrato de soja (ou leite de soja em pó).

A ração humana agradou os olhos da população por prometer emagrecimento, saciedade, melhora nas funções cardiovasculares, diminuição do colesterol, maior disposição, regulação do intestino e alguns até dizem diminuir a flacidez. A ordem é consumir duas colheres da mistura batida com alguma fruta substituindo um lanche ou uma refeição. A ração não tem contraindicações, pode ser consumido por qualquer um, a menos que a pessoa seja diabética ou tenha alergia a algum componente da fórmula como os celíacos, tendo assim, que ser feitas alterações na receita. Até aí a ração humana parece uma boa opção para quem quer emagrecer, não? Pois é, cuidado!

A ração é muito rica em fibras. As fibras são carboidratos vegetais que não são digeridos pelo intestino delgado devido a ligações químicas que as nossas enzimas digestivas não conseguem hidrolisar. As fibras apresentam compostos poliidroxilados que torna a molécula hidrófila, todos atraem água, mas nem todos são solúveis nela. As fibras solúveis são formadas por heteropolissacarídios (formado por monossacarídeos diferentes) ramificados o que determina um aumento da viscosidade em presença de água, formando um gel e proporcionado à sensação de “estômago cheio”, de saciedade. As fibras são conhecidas também por diminuir o nível de colesterol plasmático. Elas se ligam a sais biliares, aumentando sua excreção. Esses sais perdidos nas fezes são repostos a partir do colesterol, fazendo assim diminuir o teor de colesterol circulante no sangue. Além disso, a fermentação bacteriana intestinal produz ácidos graxos de cadeia curta que parecem inibir a síntese de colesterol no fígado.

Mesmo com tantos aspectos positivos, há discussões sobre alguns nutrientes terem a absorção inibida pelas fibras. As fibras tem efeito laxativo, pois passam pelo trato digestivo sem sofrer desdobramento, irritando a mucosa intestinal e consequentemente promovendo um aumento do peristaltismo que por sua vez aumenta o transito intestinal. Dessa forma, a absorção de nutrientes fica prejudicada devido à velocidade exigida na absorção de nutrientes ser menor do que a do peristaltismo. Há também uma interação das fibras com os nutrientes, formando complexos insolúveis e impedindo absorção dos mesmos.

O aumento na disposição se deve à cafeína do guaraná em pó, substância que melhora os reflexos e reduz a fadiga. Porém, justamente pela cafeína atuar sobre o sistema nervoso central e o cardiovascular, seu consumo parece elevar a pressão arterial de forma rápida, o que requer certo cuidado em indivíduos hipertensos ou que possuam qualquer patologia cardiovascular. É importante lembrar também que a cafeína já está presente em diversos alimentos da nossa dieta normal, como café, chás e chocolates, e a ingestão de cafeína em excesso é tóxica para o organismo.

A ração humana possui diversas vitaminas, minerais e fibras importantes para nosso organismo e ela pode realmente trazer benefícios à saúde. Mas deve-se tomar cuidado se o objetivo é o emagrecimento, pois a ração possui quantidade considerável de calorias. E acima de tudo, a mistura não pode ser utilizada como substituição de uma refeição, pois ela não apresenta quantidades de micro e macronutrientes relevantes para tal.

A ração humana só deve ser utilizada como meio de complementação alimentar. Devemos visar que em uma dieta equilibrada não há a necessidade de qualquer tipo de suplementação. E que apenas um nutricionista pode dizer corretamente suas necessidades energéticas e nutricionais.

Por Ingrid Zago

Referências

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